terça-feira, 6 de março de 2012

VIGOREXIA -Conheça os riscos para os "viciados" em exercício físico

Pessoas obcecadas por exercícios podem ser vítimas de um transtorno conhecido como vigorexia (27/2/2012)
    No começo, a estudante Pamela (nome fictício) ia à academia três vezes por semana. Depois, começou a freqüentar a academia cinco vezes por semana, duas vezes por dia. Comprou pesos e equipamentos e decorou a sequência de exercícios para repetir tudo também no domingo, quando a academia estava fechada. Quando a moça começou a acordar de madrugada para correr antes de malhar, a mãe desconfiou que alguma coisa estava errada. Ao conversar com profissionais de Educação Física, ela descobriu que a filha poderia ser uma vítima de vigorexia, um transtorno de comportamento que ocorre quando o volume e a intensidade da prática de exercícios físicos excedem a capacidade de recuperação da pessoa. O problema geralmente está associado a uma auto-imagem distorcida, ou seja, a pessoa nunca está satisfeita com a própria aparência. 
     O professor Raymundo Pires [CREF 001340-G/PR], do curso de Educação Física da Unopar, já viu vários casos semelhantes ao de Pamela. "O exercício físico depende muito da maneira como a pessoa se vê; normalmente quem sofre de vigorexia tem um apelo estético muito grande. Dificilmente quem está focado na saúde acaba viciado em exercício", explica Pires. 
     Já se sabe que a prática de exercício físico estimula a produção de algumas substâncias, como a endorfina, que produzem uma sensação de bem-estar. Pesquisas recentes mostram que essas substâncias também produzem euforia, melhoram a memória, o bom humor, aumentam a resistência, aliviam dores e têm efeito antienvelhecimento. "É normal a gente sentir falta do exercício quando está habituado a ter alguma atividade física. Isso não significa que a pessoa está viciada em exercício. O problema começa quando o exercício se transforma em uma obsessão", pondera o professor. 
     Pessoas como Pamela não podem ficar nem um dia sem se exercitar e se sentem culpadas se, por qualquer motivo, seu rendimento físico diminui. "Outros hormônios (as catecolaminas) que são estimulantes podem se tornar estressantes quando a pessoa ultrapassa seus limites físicos", alerta Pires.
A primeira prejudicada é a saúde
     Quando a atividade física deixa de estar focada no bem estar e no prazer e se transforma em obsessão, a primeira prejudicada é a saúde. "Qualquer profissional da área de Educação Física conhece bem o conceito de dose-resposta. Para entender isso pense no exercício como se fosse um medicamento, um antibiótico, por exemplo. Ele deve ser tomado em uma dose e num intervalo de tempo especificados para que o efeito seja o melhor. Se você aumentar aleatoriamente a dose ou diminuir o intervalo da medicação, ela não vai ter um efeito maior nem melhor. Ao contrário, o efeito não será aquele desejado. Isso também funciona para o exercício físico. Existe uma dose ideal em que a resposta é altamente positiva; se a dose for menor ou maior, a resposta não será tão boa", indica o professor. Embora a dose varie de pessoa para pessoa, existem padrões pré-definidos por idade, peso e sexo. 

     Às vezes, o exercício que pode melhorar a saúde também pode acabar com ela. O professor Pires já viu casos de pessoas que adoeceram por causa da vigorexia. "Uma mulher ficou tão obcecada em perder peso que entrou numa maratona absurda de exercícios, sem cuidar da dieta. Ficou anoréxica e não se recuperou mais", lembra. 
A vigorexia é considerada um transtorno obsessivo-compulsivo e dificilmente as pessoas afetadas por esse comportamento conseguem admitir que precisam de ajuda. Alguns sinais podem servir de alerta para amigos e familiares: 

· Preocupação excessiva com a aparência 
· Insatisfação constante e auto-imagem distorcida (a pessoa sempre quer emagrecer mais, ficar mais forte, mais musculosa...) 
· Fixação no desempenho físico (quantos kms correu, quantos metros nadou, quanto peso levantou...) 
· A pessoa se sente culpada se deixa de se exercitar ou se o desempenho físico diminui 
· Exercício físico se torna o assunto principal nas conversas 
· A pessoa começa a trocar programas de lazer por exercícios programados 
· Restrições severas na dieta 
· Falta de sono, irritabilidade, falta de concentração 

Atletas não servem de exemplo

     Para as pessoas que têm na atividade física uma profissão ou um objetivo definido, os limites são diferentes. Os atletas trabalham focados em alvos – campeonatos, torneios, jogos, competições, e sempre têm uma equipe de profissionais que os acompanham. Eles se exercitam com planejamento, sob supervisão e têm metas para alcançar. Por isso não servem de parâmetro para as outras pessoas, que buscam a atividade física para melhorar a qualidade de vida. Para elas, o professor Pires tem uma dica simples que pode servir de limite: "O exercício físico precisa dar prazer. A atividade física deve estar focada na saúde. Se ela começar a se tornar obsessiva e trouxer culpa e cobrança, é sinal de doença".
Fonte:  Bonde

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